sábado, 20 de março de 2010

Dia do Pai

Pai:

Imagina que te escrevo em voz baixa. Quero que saibas que não te escrevo por descargo de consciência de tudo o que fiz e de tudo o que te disse sem pensar. Quero que saibas que te escrevo porque é a unica maneira que consigo que me sintam, que sintam tudo o que se passa cá dentro. Quero que saibas que isto não é mais um texto que se faz no Dia do Pai, não é mais um texto meu, é talvez O texto mais importante que tenha escrito até agora. Este texto carrega sentimentos que nenhum outro carregou e é por isso de muita responsabilidade. É o único texto em que eu senti que alguém iria gostar, mesmo que as palavras não se fizessem ouvir, eu sabia que tu irias perceber e sentir a mensagem, exactamente da maneira como eu queria que o fizesses.
És o homem da minha vida, e não digo isto da boca para fora, digo-o porque o sinto. Digo-o porque é cruel demais calar as palavras que mais teimam em fazer-se ouvir. És a melhor pessoa que conheço, sempre preocupado comigo, sempre a tentar proteger-me de tudo. Sinto um orgulho que me invade o peito por poder responder quando me perguntam "Aquele é o teu pai?" e eu digo "Sim, aquele é o MEU pai".
Nunca te esqueças do que és para mim, e do que hás-de ser SEMPRE!

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Escrever-te é crucial para mim, sempre foi.

Conheces-me melhor que ninguém, sabes como, às vezes, preciso de desabafar, como, às vezes, preciso de soltar as palavras, sem ter a noção do peso que cada uma delas carrega. Sempre pensei que conseguisse mudar mudar a tua vida, mas, pela primeira vez, senti a dor, a frustração, o sabor amargo da derrota. Querer e conseguir são duas coisas muito diferentes. Eu quero perdoar, mas não consigo. Isto ultrapassa todas as barreiras, todos os limites e, o mais importante, ultrapassa-me a MIM. Mas não quero, de maneira alguma, ajustar contas com o passado, contigo. Acredito que, com tudo o que aqui te escrevo, te ajude a ir mais longe que aquilo que a tua vista alcança, comigo ou sem mim. Não há qualquer tipo de culpa ou mérito em tudo o que o destino decide por e para nós. Só me apercebi, há bem pouco tempo, que vivia num labirinto, num ciclo viciante, numa espiral, pelos piores motivos.
As coisas mais absurdas ainda me fazem lembrar de ti, de tudo o que fui contigo. Hoje, olho para trás e o único que consigo sentir é tristeza, mágoa. Faz lá a tipica pergunta: "Até que ponto me amaste?" Amei-te o suficiente (e talvez até de mais) para ficar ficar noites sem dormir, sem conseguir comer.
Sempre respeitei o silêncio de toda a gente, o mais difícil foi que tive de aprender a respeitar o teu, durante muito tempo, demasiado até.
Não me peças para te perdoar, isso não acontece quando queremos, mas apenas quando estamos preparados. E eu sinto que ainda não estou. Porém sinto que isto não acaba aqui, ou não acaba ou sou eu quem não quer que acabe. Não sei, simplesmente não sei.
E enquanto isso não acontecer, não me procures mais, não digas mais o meu nome, não tentes falar comigo. Sabes o que sinto? Que nunca fui suficientemente boa para ti, que nunca fui suficientemente importante para ti. E isso dói, dói em todos os minutos, em todas as horas, em todas as merdas de dias!
Deixei de acreditar nas pessoas, deixei de querer lutar por aquilo que me faz feliz, deixei de querer pensar que amanhã vai ser um dia melhor, porque esse amanhã pode ser bem pior do que hoje e tenho medo.
Não, não me procures mais. Deixa-me mentalizar que és igual a todos os outros, não há excepções. Enquanto a dor que sinto bão se tornar menor, e conseguir voltar a encarar-te, não me procures mais, por favor.
Porque, afinal de contas, eu fui a espera á qual tu nunca te submeteste.


2/3/2010